"A Corregedoria-Geral da PCDF informa que irá oficiar à referida deputada para que informe eventuais casos de irregularidades que tenha conhecimento para que sejam devidamente apurados. Até porque como autoridade pública é seu dever fazê-lo", diz nota da corporação.

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O comentário foi feito pela deputada durante transmissão em rede social, no dia 30 de abril. À ocasião, ela comentava suposta cobrança de propina por gestores públicos a empresários. A parlamentar disse que "podem até passar um pano para ele [suspeito] na polícia, se ele tiver esquema, tá? Se ele tiver contato político. Mas desce o cacete nele [...]".

A declaração também foi repudiada pelo Sindicato dos Delegados de Polícia do DF (Sindepo-DF). Em nota, a entidade disse que recebeu com "estranheza" a fala da deputada.

Já Júlia Lucy informou que tem uma relação de "respeito e admiração pelas forças policiais" e que "em nenhum momento do vídeo menciono a Polícia Civil ou qualquer polícia de forma nominal. O que fiz foi apenas consternar uma indignação geral contra agentes públicos corruptos e o mal que a corrupção traz para a sociedade – sem citar nenhum órgão ou corporação" (veja íntegras ao fim da reportagem).

O comentário da parlamentar foi feito enquanto ela falava de fiscalização do Estado em empresas de pequeno porte. A deputada criticava a atuação dos órgãos públicos e, ao responder uma questão de um internauta, ela citou um caso de agressão contra o chefe de gabinete da Administração Regional do Gama, Cleider Paiva.

Na semana passada, ele foi agredido em uma lanchonete da região. O momento foi gravado por câmeras de segurança e as imagens mostram que ele conversava com dois homens, quando foi atingido pela dupla. Na delegacia, Cleider disse que não conhecia os suspeitos e que acreditava que o crime tinha "motivação política (assista acima).

No vídeo postado pela deputada, ela afirma que o caso está em investigação, mas que "ouviu" que a agressão tinha a ver com cobrança de propina. Nesse momento, incentivou os empresários a agredirem quem cobrar valores irregulares e citou a possibilidade de a polícia "passar pano", se o envolvido tiver contatos políticos. Confira a íntegra da fala abaixo:

"Pois é, pois é. Porque acho que fica mais fácil ficar ameaçando os [empresários] pequenos, né. Só que aí, tem gente que começou a abrir o olho e não está aceitando mais. Vocês viram aquela notícia, que o chefe de gabinete da Administração do Gama apanhou? Tá? Essa história está sendo investigada. Está sendo investigada.

Vamos esperar um pouquinho, mas eu vou dizer para vocês: o que eu ouvi é que tem a ver com cobrança de propina. Então, chegou alguém para cobrar propina, desce a porrada no cara. Desce o cacete. Quero ver continuar fazendo isso. Porque a pessoa pode até ser inocentada na Justiça, podem até passar um pano para ele na polícia, se ele tiver esquema, tá? Se ele tiver contato político. Mas desce o cacete nele, igual fizeram lá, com o chefe do gabinete do Gama. Desce o cacete."

Acionada pelo G1, a assessoria de imprensa da Administração Regional do Gama disse que o chefe de gabinete envolvido no caso, Cleider Paiva, não quer comentar as declarações feitas pela deputada.

Confira a íntegra da nota da Polícia Civil do DF:

"A respeito do vídeo divulgado pela imprensa local, no qual a deputada distrital Júlia Lucy sugere supostos esquemas na polícia para acobertar eventuais denunciados pela prática de crimes, a Polícia Civil do DF esclarece que é uma instituição de Estado e, como tal, preza pela ética, profissionalismo e integridade dos seus atos e de seus servidores.

A Corregedoria-Geral da PCDF informa que irá oficiar à referida deputada para que informe eventuais casos de irregularidades que tenha conhecimento para que sejam devidamente apurados. Até porque como autoridade pública é seu dever fazê-lo.

A Polícia Civil do DF, por fim, reitera o seu compromisso com a ética, a legalidade e a transparência, valores esses que pautam nossas atividades e consolidam a nossa credibilidade como organização policial de referência."

Confira a íntegra da nota do Sindepo-DF:

"Nota de repúdio

O Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Distrito Federal (SINDEPO-DF), vem a público por meio desta nota informar que recebeu com absoluta estranheza as declarações da Deputada Distrital Júlia Lucy (Novo), amplamente divulgadas na imprensa e redes sociais, acerca de supostos favorecimentos pessoais dentro da Polícia para acobertar casos envolvendo pessoas com 'esquemas' ou com 'contato político'.

O SINDEPO ressalta que a PCDF, referência nacional em Polícia Judiciária, é uma instituição de Estado, formada por profissionais que oferecem trabalho de excelência à população e tem demonstrado ao longo dos anos que investiga fatos e não pessoas, não perseguindo e não protegendo quem quer que seja.

Declarações como estas, tem o claro objetivo de desqualificar o trabalho dos Policiais que se dedicam dia e noite a servir à população, do DF. Caso a Deputada tenha ciência de algum desvio de conduta por parte de qualquer Policial da corporação, seu dever é trazer a público os fatos para uma investigação rigorosa e isenta. O SINDEPO permanecerá atento e não vai admitir que afirmações infundadas sejam impunemente divulgadas contra a PCDF."

Confira a íntegra da nota da deputada Júlia Lucy:

"Tenho uma longa e profícua relação de respeito e de admiração pelas forças policiais, tanto é que pertenci aos quadros da Polícia Federal por anos e durante meu mandato tenho encaminhado emendas parlamentares e trabalhado firme para assegurar a saúde e os direitos dos agentes de segurança.

Em nenhum momento do vídeo menciono a Polícia Civil ou qualquer Polícia de forma nominal. O que fiz foi apenas consternar uma indignação geral contra agentes públicos corruptos e o mal que a corrupção traz para a sociedade – sem citar nenhum órgão ou corporação.

É notório que há casos de corrupção em quase toda administração pública, fato comprovado pelas inúmeras reportagens na imprensa, investigações nas corregedorias e processos administrativos disciplinares que existem nos mais diversos órgãos. É justamente no sentido de defender os bons agentes e servidores, que fazem um trabalho fundamental, que manifestei meu repúdio e minha indignação aos corruptos e corruptores que tanto prejudicam as instituições e a sociedade como um todo. A corrupção, direta ou indiretamente, mata!

A cultura de desprezar os direitos humanos precisa acabar, assim como deve acabar a estrutura de inércia em relação à criminalidade, à corrupção instaurada e à impunidade, que provocam mortes de policiais e outras mazelas com consequências irrevogáveis.

Firmo mais uma vez meu compromisso em combater a corrupção, fiscalizar o poder público e defender os bons agentes e servidores, cujo trabalho é essencial para crescermos como nação e acabarmos com a injustiça e com a impunidade. É lamentável ver essa inversão de valores, na qual quem não tem medo de falar a verdade e de defender os direitos da população, como eu, esteja na linha de frente de ataques por representar um anseio comum a todos os cidadãos honestos: um País onde a corrupção não prospere e a Justiça floresça.

Mas, se necessário for que eu assuma esse papel, estou pronta e disposta; afinal, meu principal dever é o de servir a todos os cidadãos do Distrito Federal."