“Com a finalidade de se esclarecer a existência de indícios de materialidade e autoria de crime militar, o Ministério Público requisita a imediata instauração de procedimento de apuração preliminar para a colheita de eventuais elementos indiciários que justifiquem a instauração de inquérito policial militar”, destaca o documento.
Aguiar estava em serviço e exercia a função de supervisor de dia, representando o delegado-geral da PCDF. Vestido com um colete da corporação, ele estava em uma viatura descaracterizada e seguia para a 15ª DP (Ceilândia) quando avistou a blitz e atendeu ao comando dos supostos policiais, que fizeram sinal para parar.
Ao iluminar o interior do automóvel com uma lanterna, um dos homens que estava no ponto de bloqueio teria exigido, de forma ríspida, os documentos do carro e a identificação pessoal do delegado. “Esse colete é um pano de chão, e o distintivo é vendido em qualquer feira. Delegado é o caralho, desce do carro!”, teria dito.
Metralhadoras engatilhadas
O fato de todos os supostos policiais vestirem fardas pretas sem a identificação de qualquer corporação ou nomes de guerra chamou a atenção do delegado. O mesmo ocorreu com as viaturas, que estavam estacionadas a cerca de 300 metros do ponto de bloqueio, impossibilitando que as placas fossem vistas.
De acordo com as investigações, quando Mauro Aguiar foi cercado pelo grupo que conduzia a falsa blitz, o delegado ouviu o estalo de armas engatilhadas e ficou sob a mira delas. Em seguida, o homem que havia feito a abordagem teria gritado que o delegado estaria embriagado. No mesmo momento, outros três que integravam o grupo reconheceram o chefe da unidade de Taguatinga Norte: “É o doutor Mauro”, disseram, em tom preocupado.
Aguiar exigiu falar com o comandante da operação, e um homem se identificou como “tenente Andretti, do Batalhão de Policiamento Rodoviário (BPRv) da PMDF”. O delegado acabou liberado pelos supostos policiais e seguiu para a 15ª DP (Ceilândia centro), onde registrou ocorrência por injúria. Ele também se submeteu a exame de alcoolemia no Instituto Médico Legal (IML), que deu negativo.
Blitz fantasma
Na mesma madrugada, Mauro Aguiar entrou em contato com a Central de Operações da Polícia Militar (Copom) a fim de confirmar quem eram os miliares que participavam da blitz. Em resposta, foi informado de que não existia ponto de bloqueio do BPRv previsto para aquela noite naquele ponto e tampouco alguém na unidade chamado “tenente Andretti”. Quando decidiu retornar ao local em que a blitz havia sido montada, não havia mais sinal dos supostos policiais nem das viaturas.
Delegado mais antigo da PCDF na área operacional, com 34 anos de carreira, Mauro Aguiar preferiu não se manifestar sobre o caso. Procurado pela coluna, falou que ainda está traumatizado com o episódio e irá acompanhar o desdobramento das investigações. Aguiar ressaltou que sempre defendeu a integração entre as forças de segurança.
A reportagem acionou a PMDF para saber se, de fato, não havia blitz oficial no local mencionado pelo delegado, mas não obteve retorno até a última atualização deste texto.
Entidades se manifestam
Após a publicação da reportagem, o Sindicato dos Delegados de Polícia do DF (Sindepo-DF) e a Associação dos Delegados de Polícia (Adepol) emitiram nota classificando como “abusiva” a abordagem. “Além de acompanhar de perto e exigir rigidez nas apurações, as Entidades Integradas irão buscar a melhoria das condições de trabalho dos delegados de polícia na supervisão de dia”.
O texto diz ainda que ambas “já entraram em contato com a Direção da PCDF, que se mostrou atenta ao caso e informou que irá promover mudanças quanto ao funcionamento da supervisão de dia”.
FONTE: Metropoles